CURTIR

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Recair a seco e recair ativo


O adicto recai antes de recaír. Quando se diz que recaíu, já há algum tempo que a recaída se tinha efetivado mesmo que "a sêco".
Recaí-se numa atitude mental. Recai-se numa forma de viver. Recai-se no continuar mergulhado no mesmo ambiente de sempre. E isso tudo é a recaída. A retomada da dita adicção ativa, seja beber, seja internet a mais, seja jogo, ou sexo predatório ou manipulador... essa retoma é um detalhe.
A recaída acontece porque a adicção, qualquer adicção, é uma doença do âmago, do centro, em torno da qual a personalidade tendeu a desenvolver-se. Os valores, aquilo a que se dá importância, o tipo de pessoas que nos habituámos a validar... os nossos modelos, os pressupostos pelos quais guiámos toda a nossa vida, levaram-nos até ali. Até à perda de controle e à ingovernabilidade que fazem do adicto um adicto.
E é tudo isso que o prende à recaída. Não é o álcool. Não é a droga. O desmame químico faz-se relativamente rápido. A recaída não resulta da química apenas. É um conjunto coerente entre a química, a personalidade e o meio. E com estes três iguais, como podia o resultado ser diferente?
Prevenção de recaída é muito mais do que evitar o álcool. Evitar o computador ou o maço de cigarros.
Evitar é um eufemismo.
Prevenção de recaída é um exercício de auto-consciência que assusta o adicto de morte!! Alienar-se dessa auto-consciência foi tudo o que o adicto tentou fazer todo o tempo em que andou em adicção ativa. Esse entrar em contato com o espectro de emoções para um adicto não é como possa imaginar-se, não é um mero exercício de ponderação.
A constante exposição à alienação foi retirando a camada protetora que todos os humanos saudáveis desenvolvem através do contato consigo mesmo perante as muitas situações da vida. O adicto não tem essa camada protetora porque a descalibrou à força de tanto evitar.
Então é como um exame de consciência em carne viva. É um ato de coragem heróico.
Quando um adicto aceita ver-se com honestidade este faz mais do que a sociedade inteira costuma conseguir fazer, porque é um olhar sem proteção, é como uma alma despida.
É por isso que não se pode expôr toda esta enorme ferida ao ambiente corrosivo que começou por provocá-la.
É por isso que os grupos de 12 passos precisam ser sobretudo nutrivos e acalentadores. O adicto que aceita iniciar este processo está a escolher entre ter ou não anestesia para a maior aventura da sua vida. Só quem passa por isso pode ajudar, entender, validar e dar esperança e caminhos de consciência.
Só a consciência tem consciênca e essa é a consciência de grupo. Essa é a comunidade de que o adicto em recuperação precisa de se fazer rodear, sendo apadrinhado e tendo apoio 24h sobre 24h no início. Cada minuto doi, porque parece que é assim para a vida toda e ninguém aguentaría isso.
Então "só por hoje". Só hoje, é necessário manter alerta um exercício de observação sincero.
Só por hoje re-avaliar valores. Só por hoje pôr em causa aqueles que um dia pareciam ter valor mesmo enquanto íamos sendo destruídos por essas metas, esses referenciais.
Novos amigos, novos lugares, novas experiências, sem euforia, sem novas alienações alternativas. Sem fugir para adicção seguinte ou a seguinte a essa. Sem facilitismos perigosos, sem querer estar curado do dia para a noite.
Prevenção de recaída é para toda a vida.
Mas felizmente aprendemos juntos, que a vida toda, é só por hoje.
E hoje dá para aguentar. Pelo menos agora dá.

Colaboração Grupo Carmo Sion BH MG

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