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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Alcoolismo e desempenho sexual




Dr. Alberto Duringer - Médico
Ex-Diretor do Hospital Central da Polícia Militar
Conselheiro no Conselho Estadual de Entorpecentes
Na sociedade em que vivemos, o sexo não é completamente livre. Ele está limitado por uma série de censuras éticas, morais e sociais, que fazem com freqüência o desejo não se concretizar como ato sexual, ficando tudo apenas na vontade. Ocorre que estas censuras são anestesiadas pelo álcool etílico e é por isso que muita gente associa o exercício de sua sexualidade com a ingestão de bebidas alcoólicas.
Se isto é válido para quase todo o mundo, é muito mais ainda para o alcoólatra, que tem todo um passado ligado a um freqüente e intensivo consumo de bebida, sem falar no fato de que o álcool desencadeia nele uma fantasia de grandiosidade, na qual ele se julga atraente, quase irresistível e certamente o melhor amante do mundo. Freqüentemente um alcoólatra não consegue nem se lembrar de ter tido sexo, sem antes ter bebido álcool. Esta associação, válida por muitos anos, acaba profundamente marcada em seu subconsciente.
Por outro lado, a ingestão crônica de grandes quantidades de álcool por períodos prolongados de tempo, agride diretamente as glândulas sexuais, provocando sua atrofia; o álcool pode até aumentar o desejo, mas termina prejudicando o desempenho. Homens alcoólicos, em fase avançada da doença, diminuem progressivamente sua potência, perdem pêlos, às vezes apresentam até crescimento mais ou menos acentuado das mamas. Mulheres alcoólicas, podem perder suas características sexuais secundárias femininas, atrofiam suas mamas, vêem suas menstruações diminuídas ou ausentes, tornam-se estéreis. No fim da doença alcoólica, fica freqüentemente difícil distinguir, ao primeiro olhar, quem é homem, quem é mulher.
Por felicidade, este comprometimento das glândulas sexuais (testículo e ovário), não costuma ser definitivo, podendo o alcoólatra voltar à sua normalidade apenas parando de beber. Só que isto não acontece da noite para o dia, a agressão geralmente foi muito prolongada e durou muitos anos. A observação clínica mostra que o prazo de recuperação é variável, mas costuma oscilar entre 3 e 6 meses de abstinência. Reconheço que o problema é de difícil aceitação, para o doente: ao parar de beber, o alcoólatra pela primeira vez lúcido, depois de muito tempo, descobre estar impotente e se desespera. Três a seis meses é muito tempo, para quem deseja soluções rápidas. Todo o seu subconsciente associa sexo com álcool, faz parte de toda a sua vida sexual. Existe uma vozinha compulsiva dentro dele, dizendo que ele vai conseguir, se antes tomar uns goles. Tudo isto, mais a insegurança, os medos, o orgulho ferido, a revolta existentes neste período inicial de abstinência, levam com freqüência a uma recaída. É claro que voltar a beber não soluciona coisa alguma, só agrava o problema cada vez mais, mas não falta quem venda na rua todo o tipo de garrafadas, vinhos e tônicos (sempre contendo álcool), que falsamente prometem uma recuperação da potência. É importante que o alcoólatra seja alertado contra este canto de sereia, senão certamente irá recair.
A única possibilidade de recuperação física exige um período de abstinência um pouco mais prolongado e há que se ter a necessária paciência para esperar por ela. É claro que pode haver mais algum outro fator influindo, diabete ou lesão vascular, por exemplo, cujo tratamento depende de uma ida ao médico e de tratamento apropriado. O alcoólatra que esteja nesta situação não deve deixar de fazer um bom exame geral, para ver se não há outras doenças associadas.
Sexo porém não é só uma atividade física. Há todo um clima amoroso envolvido, uma sedução preliminar, que é da maior importância. Existem alcoólicos que nunca tiveram relações em toda a sua vida, sem antes beber, desde sua adolescência. Agora, homens maduros, vêem-se diante da perspectiva de fazê-lo sem álcool, como se fosse a primeira vez, como se tivessem de aprender como é que se faz para namorar.
Mesmo quando o alcoólico ainda conseguiu manter uma relação estável, os laços afetivos costumam estar severamente atingidos. Por exemplo, uma mulher não alcoólica, que vê seu companheiro chegar à noite bêbado, sujo, cheirando mal em casa, vomitando e depois desmaiando numa cama, tem todos os motivos para não gostar de fazer sexo com ele e sentir até repugnância física. De repente, este alcoólico diz para ela não estar mais bebendo, que está se recuperando, digamos, dentro de uma sala de Alcoólicos Anônimos. Provavelmente ela já ouviu muitas juras e promessas não cumpridas, tendo todo o direito de estar descrente de que desta vez é para valer, podendo ainda estar adoecida de raiva e ressentimentos, criando-se um clima absolutamente impróprio para qualquer relação amorosa. Também aí, só o tempo pode ajudar, à medida que a recuperação se torne mais consistente.
Em resumo: a sexualidade está prejudicada no alcoolismo por comprometimentos físicos, psíquicos e espirituais e só uma recuperação nestas três áreas, aliada ao fator tempo, pode levar novamente à normalidade.

 
COLABORAÇÃO, Grupo Carmo Sion de AA

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